Iatrogenia


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Trepanação, um exemplo de tratamento não provado para várias doenças

Iatrogenia refere-se a um estado de doençaefeitos adversos ou complicações causadas por ou resultantes do tratamento médico. Contudo, o termo deriva do grego iatros (médico, curandeiro) e genia (origem, causa),[1] pelo que pode aplicar-se tanto a efeitos bons ou maus.

Em farmacologia, o termo iatrogenia refere-se a doenças ou alterações patológicas criadas por efeitos colaterais dos medicamentos. De um ponto de vista sociológico, a iatrogenia pode ser clínica, social ou cultural. Embora seja usada geralmente para se referir às consequências de ações danosas dos médicos, pode igualmente ser resultado das ações de outros profissionais não médicos, tais como psicólogosterapeutasenfermeirosnutricionistasdentistas, consultores financeiros, etc. Além disso, doença ou morte iatrogênica não se restringe à medicina Ocidental: medicinas alternativas também podem ser uma fonte de iatrogenia, de acordo com a origem do termo. Assim como na prática médica em não resolução de problemas à anemia, pois os profissionais médicos apenas tentam normalizar rapidamente o hemograma.

História

Desde o tempo de Hipócrates que é reconhecido o potencial efeito lesivo das ações de uma pessoa que tenta curar. O princípio da não-maleficência (primum non nocere) é um ponto importante da ética médica, e a doença ou morte iatrogênica causada intencionalmente, ou por erro evitável ou negligência de quem cura, é considerada um crime na maioria das civilizações.

Com o desenvolvimento da medicina científica ao longo dos séculos mais recentes, a grande evolução das técnicas e dos medicamentos disponíveis permitiu uma enorme queda da mortalidade iatrogénica.

Fontes de iatrogenia

Há muitas fontes de iatrogenia:

Erro médico e Lesão Iatrogenica

De acordo com o advogado especialista em direito médico pela Harvard, David Castro Stacciarini:[3]

A Lesão Iatrogênica, é uma lesão involuntária no tratamento médico, ela viola o princípio mais antigo da medicina “primum no nocere – primeiro não fazer mal”. Mais especificamente, uma lesão iatrogênica injusta e indesculpável, viola um dos quatro pilares do dever médico, de não fazer mal, (junto com benevolência, justiça e autonomia), na estrutura internacional moderna da ética médica. No direito médico internacional, (common law e civil law), não importa se a lesão é iatrogênica, os advogados que atuam nessa área, se importam apenas se o ato médico foi um ato “negligente” – divergência deliberada do padrão.

As Condições iatrogénicas, não resultam necessariamente de erros médicos, tais como falhas durante uma cirurgia, ou a prescrição do medicamento errado. De fato, tanto os efeitos intrínsecos como os laterais de um tratamento médico podem ser iatrogénicos.

Por exemplo, a radioterapia ou quimioterapia, devido à agressividade necessária dos agentes terapêuticos, causam perda de cabelo (alopécia), anemiavómitos e náuseas, entre outros. Estes efeitos são iatrogénicos porque são uma consequência do tratamento médico. Outro exemplo é a perda de função resultante da necessidade de remover um órgão doente, como no caso da diabetes iatrogénica após remoção de parte ou todo o pâncreas.

Noutras situações, pode realmente ocorrer negligência ou falhas nos procedimentos, como quando uma prescrição com má caligrafia leva à dispensa do medicamento errado por parte do farmacêutico, agravar o estado do doente.

Efeitos adversos

Uma causa muito comum de efeitos iatrogénicos, que acarreta significante morbilidade e mortalidade, é a interação medicamentosa, que ocorre quando um ou mais medicamentos alteram os efeitos de outros que estão a ser tomados pelo paciente, por exemplo aumentando ou diminuindo a sua acção.

Efeitos laterais tais como as reações alérgicas a medicamentos, mesmo quando são inesperadas, são uma forma de iatrogenia.

A evolução de resistência aos antibióticos nas bactérias pode ser iatrogénica,[4] já que geralmente ocorre como resultado de uma má utilização dos antibióticos.

Procedimentos médicos não provados

Existem muitos exemplos, quer no passado como no presente, em que procedimentos foram ou são usados sem provas de que funcionem. Estes tratamentos não provados podem ser uma fonte de doença ou morte iatrogénica.

Atualmente, há casos de novos medicamentos (por exemplo contra o cancro) que são usados antes de estarem completas todas as fases do ciclo do medicamento, pelo que ainda são desconhecidos muitos dos seus efeitos. A justificação para o seu uso, mesmo correndo o risco de causar efeitos laterais graves, é a de que esse doente esgotou todas as hipóteses de tratamento disponíveis, e tenta assim uma “cura desesperada” com um novo medicamento. Também se verificaram situações semelhantes durante o desenvolvimento dos primeiros medicamentos contra a SIDA, numa altura em que não havia opções de tratamento.

A adesão a teorias médicas especulativas já provocou também dano desnecessário a doentes. Os exemplos abundam:

Incidência e importância

A iatrogenia é um fenómeno importante, e um risco severo para os pacientes. Um estudo de 1981 refere que um terço das doenças num hospital universitário eram de causa iatrogénica, que cerca de um em dez eram consideradas major, e que em 2% dos doentes a doença iatrogénica levou à morte. As complicações estavam mais fortemente associadas com a exposição a medicamentos.[5] Noutro estudo, os principais fatores que levavam a problemas eram uma avaliação inadequada dos pacientes, falta de monitorização e acompanhamento, e a não realização dos testes de diagnóstico necessários.[6]

Apenas nos Estados Unidos, registraram-se no ano 2000:

  • 12 000 mortes em cirurgias desnecessárias
  • 7 000 mortes por erros de medicação em hospitais
  • 20 000 mortes por outros erros hospitalares
  • 80 000 mortes por infecções hospitalares
  • 106 000 mortes por efeitos laterais dos medicamentos (não por erro)

Estes números, que totalizam 225 000 mortes por ano, colocam a iatrogenia como terceira causa de morte nos Estados Unidos, após a doença cardíaca e o cancro, e a uma grande distância da causa seguinte, a doença cerebrovascular.

Ao interpretar estes números, é de notar que:

  • a maior parte dos dados foram derivados de estudos em doentes hospitalizados
  • as estimativas são apenas para mortes, e não incluem outros efeitos negativos
  • As estimativas de morte devido a erro são menores que as do relatório IOM. Se forem usadas as estimativas mais altas, o número de mortes por iatrogenia pode variar entre 230 mil e 284mil.[7]

Referências

  1.  «Infopédia – Enciclopédia e dicionários Porto Editora» (Palavra pesquisada: Iatrogenia). Consultado em 11 de março de 2008
  2.  «Esposa de secretário é sócia em empresa suspeita de fraude no Samu». 3 de julho de 2016. Consultado em 4 de julho de 2016
  3.  «Artigo: Lesões nos pacientes – uma abordagem jurídica, ética e histórica da Iatrogenia»Migalhas. 7 de fevereiro de 2019. Consultado em 7 de fevereiro de 2019
  4.  Finland M (1979). «Emergence of antibiotic resistance in hospitals, 1935-1975». Rev. Infect. Dis1 (1): 4–22. PMID 45521
  5.  Steel K, Gertman PM, Crescenzi C, Anderson J (1981). «Iatrogenic illness on a general medical service at a university hospital». N. Engl. J. Med304 (11): 638–42. PMID 7453741
  6.  Weingart SN, Ship AN, Aronson MD (2000). «Confidential clinician-reported surveillance of adverse events among medical inpatients». J Gen Intern Med15 (7): 470–7. PMID 10940133
  7.  Starfield B (2000). «Is US health really the best in the world?». JAMA284 (4): 483–5. PMID 10904513

[1]

http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI3722780-EI715,00-Medico+e+cassado+no+RS+por+protese+peniana+desnecessaria.html

Bibliografia adicional

  • Valenstein, Elliot S. (1986). Great and desperate cures: the rise and decline of psychosurgery and other radical treatments for mental illness. New York: Basic Books. ISBN 0465027105

Referências externas